A Brusque que mudou a democracia brasileira
Muito antes dos sistemas digitais tomarem conta das eleições no país, foi em Brusque, Santa Catarina, que nasceu uma das maiores inovações da história política nacional: o primeiro protótipo funcional da urna eletrônica brasileira. Em 1989, um experimento silencioso numa seção eleitoral da cidade antecipou uma revolução que, anos depois, se espalharia por todo o território nacional.
O cenário brusquense nos anos 1980
Na década de 1980, Brusque já se destacava por seu dinamismo econômico e espírito empreendedor. Em meio à efervescência industrial da cidade, foi no ambiente da Justiça Eleitoral que surgiria uma proposta ousada: tornar o processo de votação mais ágil, seguro e transparente. À frente dessa ideia estava o juiz eleitoral Carlos Prudêncio, um entusiasta da tecnologia e defensor de eleições mais confiáveis.
Foi com essa motivação que ele decidiu experimentar um novo método de coleta de votos — ainda sem autorização oficial, mas com total convicção de que estava diante de algo histórico. E estava.
O primeiro teste de urna eletrônica do país
Em outubro de 1989, na 90ª seção da 5ª zona eleitoral de Brusque, um grupo de 373 eleitores participou do que seria o primeiro teste prático de votação eletrônica no Brasil. O sistema, desenvolvido localmente, utilizava uma cédula preenchida manualmente que era lida por um equipamento eletrônico, semelhante aos leitores ópticos usados em lotéricas.
A máquina lia e validava o voto, transmitindo os dados para um computador central. Ao mesmo tempo, a cédula era carimbada e depositada em uma urna física, garantindo a possibilidade de recontagem caso necessário. Era uma inovação discreta, mas carregada de significado. Pela primeira vez, o Brasil via uma eleição com apuração informatizada, segura e auditável — e isso aconteceu em Brusque.
Do experimento local à adoção nacional
Embora a iniciativa não tivesse respaldo oficial na época, o sucesso do experimento chamou a atenção. Poucos anos depois, a Justiça Eleitoral do Brasil abraçaria a ideia e criaria uma equipe técnica para desenvolver, de forma institucional, o sistema eletrônico de votação.
Em 1996, o país realizou as primeiras eleições com urnas eletrônicas oficiais em alguns municípios. Em 2000, a novidade já estava em todas as regiões, tornando o Brasil uma referência mundial em tecnologia eleitoral.
Brusque no mapa da democracia digital
O legado deixado por aquele teste pioneiro vai além do aspecto técnico. A urna eletrônica contribuiu para reduzir drasticamente as fraudes eleitorais, acelerar o processo de apuração e ampliar o acesso de milhões de eleitores — incluindo analfabetos, idosos e pessoas com deficiência.
E tudo começou ali, em uma seção eleitoral de Brusque, onde a coragem de inovar falou mais alto que o medo de errar.
Por que essa história importa?
A criação da urna eletrônica brasileira em Brusque é um marco de inovação cidadã. Ela mostra que a transformação de um país pode começar em uma cidade de médio porte, quando pessoas comprometidas com a democracia acreditam no poder da tecnologia.
Esse capítulo da história reforça o papel de Brusque como um polo de ideias disruptivas — não apenas na indústria têxtil ou metalúrgica, mas também nas engrenagens da cidadania.
A memória preservada
Embora pouco conhecida fora de Santa Catarina, essa conquista é celebrada por moradores, pesquisadores e pela própria Justiça Eleitoral, que reconhece Brusque como o berço da urna eletrônica. A memória desse feito é preservada em arquivos históricos, exposições e eventos que valorizam o pioneirismo brusquense.
Conclusão
Antes que o país inteiro confiasse seu voto a uma tela eletrônica, foi em Brusque que tudo começou. O que parecia um experimento arriscado transformou-se em política pública nacional. Hoje, o Brasil vota com tecnologia de ponta, mas a semente desse avanço foi plantada por um juiz visionário e uma cidade que sempre acreditou na inovação.