Uma carta com conteúdo xenofóbico, datada de 2013, voltou a circular entre moradores de Brusque (SC) por meio de grupos de WhatsApp. O documento, que atacava migrantes baianos com ameaças e generalizações preconceituosas, causou grande repercussão na época — e volta agora a assustar e indignar a população.
Desde o fim de semana, diversos seguidores têm encaminhado o material novamente, relatando o envio em grupos de bairro, mensagens privadas e listas de transmissão. A volta da circulação da carta reacende o debate sobre a intolerância, a xenofobia e o preconceito regional no Brasil.
O caso original, em 2013
O documento, intitulado “Aviso para os Baianos”, foi distribuído anonimamente em ruas e caixas de correio de bairros como Águas Claras, Azambuja, Santa Terezinha, Nova Brasília, Primeiro de Maio, Bateas e Steffen.
No texto, um suposto grupo de 28 moradores acusava os migrantes baianos de “perturbar a paz” da cidade, citando comportamentos como ouvir música alta, falar alto e causar “desordem”. A carta incluía ainda ameaças explícitas de violência, afirmando que o grupo estava disposto a “eliminar os ruins” e que “a cidade voltaria a ser boa, custe o que custar”.
A reação foi imediata. O conteúdo foi repudiado por vereadores da cidade, entre eles José Isaias Vechi (PT), que subiu à tribuna da Câmara para condenar a carta e reforçar que todo cidadão tem o direito de viver em paz, independentemente de sua origem.
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar os responsáveis pela redação e distribuição do texto, tratando o caso como incitação ao ódio e ameaça — condutas passíveis de punição pela lei brasileira.
O retorno do conteúdo em 2025
Mais de uma década depois, o mesmo texto voltou a circular digitalmente em grupos de WhatsApp. A reaparição reacendeu o sentimento de insegurança entre moradores migrantes e gerou nova onda de indignação nas redes sociais.
Para especialistas em direitos humanos, o reaparecimento de discursos como esse é reflexo de uma cultura de preconceito que, embora silenciosa, ainda persiste em muitas regiões. Alertam também para os perigos da naturalização desse tipo de mensagem, sobretudo quando compartilhada sem contexto, crítica ou denúncia.
Contexto da migração em Brusque
A cidade de Brusque, no Vale do Itajaí, é um polo têxtil reconhecido e tem sido destino de milhares de migrantes nordestinos, especialmente da Bahia, ao longo das últimas décadas. Muitos vieram em busca de oportunidades de trabalho e melhor qualidade de vida.
No entanto, a presença desses migrantes também tem sido acompanhada por episódios de discriminação e rejeição, frequentemente impulsionados por estereótipos regionais e falta de compreensão cultural.
Estudos acadêmicos apontam que Brusque se tornou, ao longo dos anos, um ponto de reencontro familiar para muitos baianos — com cadeias migratórias conectando cidades como Ilhéus, Itabuna e Buerarema à cidade catarinense.
Xenofobia é crime
A Constituição Federal do Brasil garante o direito à igualdade e proíbe qualquer forma de discriminação. A xenofobia, assim como o racismo e outros tipos de preconceito, é passível de punição conforme a Lei nº 7.716/1989, que trata dos crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Além disso, compartilhar esse tipo de conteúdo também pode gerar consequências legais, mesmo que o compartilhamento não tenha a intenção original do autor.
O que fazer ao receber esse tipo de conteúdo?
Se você recebeu a carta por WhatsApp ou outro meio digital:
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Não compartilhe: evite a disseminação do conteúdo.
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Denuncie: registre o caso junto à Polícia Civil ou Ministério Público.
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Salve provas: prints de tela e encaminhamentos podem ajudar a identificar os autores.
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Informe plataformas: redes como WhatsApp e Facebook têm canais específicos para denunciar discurso de ódio.
Fontes:
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Rádio Cidade Brusque (rc.fm.br) – Câmara debate carta anônima com ameaças a baianos
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Repositório UFBA – Tese sobre migração de baianos para Brusque
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Constituição Federal do Brasil
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Lei 7.716/1989
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Relatos de moradores enviados via WhatsApp ao portal