Brusque, no Vale do Itajaí, é amplamente conhecida por sua vocação industrial, mas poucos sabem que a cidade também teve um papel importante na história da indústria farmacêutica brasileira. Dois dos medicamentos mais populares do século XX — Melagrião e Sadol — nasceram ali, fruto da mente criativa e empreendedora de um brusquense chamado Fernando Boettger.
Quem foi Fernando Boettger?
Fernando Boettger nasceu em 1875, época em que Brusque ainda era chamada de Colônia Itajahy. Com espírito empreendedor e profundo conhecimento em farmacologia, ele fundou um laboratório na cidade onde começou a desenvolver fórmulas próprias de medicamentos. Seus produtos se tornaram conhecidos não apenas pela eficácia, mas também pelo fácil acesso da população.
Além de farmacêutico, Boettger foi um verdadeiro visionário, responsável por posicionar Brusque como um dos polos pioneiros na produção de remédios populares no Brasil.
Melagrião: o xarope do Brasil
O primeiro grande sucesso de Fernando foi o “Agriomel”, criado em 1918. A fórmula levava ingredientes como agrião, guaco, acônito, bálsamo de tolu, ipeca e polígala — todos com propriedades expectorantes e anti-inflamatórias. Mais tarde, o nome foi alterado para Melagrião, e se tornou um dos xaropes mais vendidos do país para o alívio de sintomas gripais e de resfriado.
Com sua base fitoterápica e sabor marcante, o Melagrião virou um item comum em boticas e farmácias por décadas — e permanece no mercado até hoje, com fórmula adaptada aos padrões da indústria moderna.
Sadol: o fortificante das famílias brasileiras
Outro produto que saiu do laboratório de Boettger foi o Sadol, lançado em 1924. À época, o medicamento foi vendido como um “revigorante do sangue”, recomendado especialmente para casos de anemia, cansaço físico e fraqueza. A fórmula continha ferro, vitaminas e estimulantes, o que lhe conferia um efeito fortificante notável.
Sadol ficou conhecido como um dos “tônicos da infância” para muitos brasileiros e se tornou símbolo de uma era onde os medicamentos eram adquiridos nas tradicionais farmácias de balcão, com fórmulas manipuladas ou industrializadas artesanalmente.
A venda para o Laboratório Catarinense
Após a morte de Fernando Boettger, em 1947, sua esposa vendeu o laboratório para o Laboratório Catarinense, sediado em Joinville. Desde então, a empresa assumiu a produção de Melagrião e Sadol, investindo em modernização e marketing.
O Sadol, por exemplo, passou recentemente por um processo de rebranding, com nova embalagem e linguagem visual, mas mantendo a essência do produto que o tornou famoso. Já o Melagrião continua a ser referência em fitoterapia, agora sob a marca Catarinense Pharma.
Legado
O legado de Fernando Boettger vai muito além da criação de dois produtos. Ele representa o espírito criativo, científico e ousado de Brusque. É parte da memória de uma cidade que sempre teve na inovação o seu caminho para o progresso — seja na indústria têxtil ou farmacêutica.
Hoje, mesmo que poucos conheçam seu nome, milhares de brasileiros ainda têm em casa uma lembrança de sua genialidade — seja num frasco de Sadol ou numa dose de Melagrião.
Fontes:
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O Município Joinville: “Conheça a história da criação do Sadol e do Melagrião, produzidos por laboratório joinvilense” (2020)
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O Município: “As histórias daqueles que abriram caminho para transformar Santa Catarina” (2020)
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Blog Adalberto Day: “Almanaque Renascim” (2016)