No coração de Brusque, em Santa Catarina, nasceu uma das iniciativas mais emblemáticas da história da saúde mental no estado: o Hospício de Azambuja. Fundado em 1902, foi um dos primeiros espaços destinados ao acolhimento e tratamento de pessoas com transtornos mentais em todo o território catarinense.
A ideia de criar um espaço de cuidado para os enfermos partiu do padre alemão Antônio Eising, responsável por fundar a Santa Casa de Misericórdia de Nossa Senhora de Azambuja. Movido pela compaixão com os colonos que sofriam sem assistência médica, ele organizou um complexo formado por hospital, orfanato, asilo e, claro, o hospício — tudo gerido inicialmente com pouquíssimos recursos, muita fé e dedicação.
As primeiras estruturas e atendimentos
Antes mesmo da fundação oficial, em 1901 já existia uma casa de madeira onde doentes eram acolhidos. Sem divisão clara entre pacientes com doenças físicas ou mentais, o espaço abrigava todos que precisavam de ajuda. Foi só com a chegada das Irmãs da Divina Providência, em 1902, que o atendimento ganhou estrutura, mesmo que ainda muito rudimentar.
Um exemplo marcante desse período é o relato da irmã Bárbara, que realizava pequenas cirurgias sem anestesia, por falta de médicos e recursos. Nessa época, não havia profissionais da saúde qualificados em Brusque, e a medicina era praticada com base na fé e no improviso.
O desafio da saúde mental em tempos antigos
O Hospício de Azambuja se destacou por ser pioneiro no acolhimento de pessoas com distúrbios mentais, mas também enfrentou grandes desafios. A estrutura era precária, e por muitos anos não havia sequer um médico fixo na instituição. Somente em 1915, treze anos após a fundação, é que o primeiro médico, Dr. Luiz Renaux, passou a prestar atendimento no local.
Naquele período, o tratamento psiquiátrico no Brasil era pautado pelo isolamento e pelo confinamento dos pacientes. Hospitais-colônia eram comuns, e o estigma social sobre doenças mentais era muito forte. O Hospício de Azambuja seguia esse modelo, mesmo que com intenções humanitárias.
O fim do hospício e a transferência para o Hospital Colônia Santana
Com o passar dos anos, o modelo de internação prolongada em pequenos hospícios foi sendo substituído por estruturas maiores e mais especializadas. Em 1942, os pacientes do Hospício de Azambuja foram transferidos para o recém-inaugurado Hospital Colônia Santana, em São José, na Grande Florianópolis. Era o fim de uma era em Brusque, mas o início de uma nova fase na institucionalização do tratamento psiquiátrico em Santa Catarina.
O legado deixado para a cidade e a região
Mesmo após o fechamento do hospício, o complexo da Santa Casa de Azambuja não parou. O hospital foi modernizado e, décadas depois, passou a se chamar Hospital Arquidiocesano Cônsul Carlos Renaux, tornando-se referência regional em diversas especialidades médicas.
O legado do antigo hospício, no entanto, permanece vivo na memória histórica da cidade. Sua existência marca o início da assistência formal à saúde mental em Brusque, e simboliza a luta pela dignidade daqueles que, em outras épocas, eram invisíveis à sociedade.
Fontes:
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Arquivo do site Brusque Memória
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Projeto História da Saúde Mental em SC – UFSC
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Hospital Azambuja